O Peixinho de Ouro

28-02-2011 16:44

Era uma vez uma ilha muito distante daqui, a Ilha Buián, onde viviam um pescador e sua mulher. Muito velhos e muito pobres, tinham apenas a sua cabana para viver e uma rede, que o homem fizera com as suas próprias mãos, para pescar.
       Um dia, no mar, o homem sentiu que a rede lhe vinha mais pesada. E, já feliz com a boa pescaria que fizera, foi puxando, puxando a rede, puxando com toda a sua força... entre as malhas, a mesma água, o mesmo sal, e um peixinho de um tamanho minúsculo. No entanto, não era um peixe comum: as suas escamas eram de ouro puro.
       O velho pescador já ia agarrá-lo quando o peixe disse:
       "Não me leves, avozinho... Deixa-me livre nas águas do mar, que te serei de grande valia. Tudo o que desejares, dar-te-ei em recompensa."
       Embora perdesse a fantástica pescaria e o almoço, o velho respondeu:
       "Vai-te embora, não preciso nada de ti. Vive em paz no mar!"
       Voltando para casa, o homem viu que a mulher esperava à porta. "E que tal foi a pesca hoje?"
Ele contou-lhe o ocorrido...
       - Que velho mais idiota! Tivestes a sorte entre as mãos e não soubestes aproveitar! Ao menos, tivesses pedido um bocado de pão... com o que havemos de forrar o estômago, se não há nesta casa nem uma pobre migalha?
       E a velha brigou o dia inteiro com o marido - até que ele, não podendo mais ouvir a sua voz, foi à orla da água:
       - Peixe, peixinho, vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para o mar!
       O peixe de ouro nadou em sua direcção:
       "O que desejas, bom velho?"
       - A minha mulher está zangada e diz que quer pão.
       "Volta para casa que pão não vos faltará."
       Ao chegar, o velho encontrou a mulher mais brava do que antes. (Ela era do tipo bem difícil de agradar!) Pão havia de sobra, uma gaveta cheia. O que agora ela queria era uma tina nova - a velha tina de madeira havia rachado e ela não tinha onde lavar a roupa:
       - Vai dizer ao tal peixe que nos providencie uma!
       O homem obedeceu e, mais uma vez, foi à praia:
       - Peixe, peixinho, vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para o mar!
       O peixe de ouro veio a nadar.
       "E o que desejas, meu bom velho?"
       - A minha mulher precisa de uma tina nova.
       "Volta para casa que a tina nova lá está."
       O pescador estava ainda a uns vinte passos da cabana, já a mulher corria ao seu encontro:
       - Vai imediatamente falar com o peixe e pede-lhe que construa uma casa nova para nós! Aqui já é impossível alguém morar...
       Girando nos calcanhares, o homem voltou ao mar. Repetiu as mesmas palavras e o peixe apareceu, dourado e solícito como sempre. No entanto, de novo em casa, o pobre do pescador viu a sua mulher soltando fumo pelas orelhas:
       - Mas que estúpido tu me saíste! Esta casa é muito pequena! Não a quero! Vai outra vez ter com o tal peixinho de ouro e diz-lhe que não quero ser mais uma camponesa: quero ser mulher de governador, ter uma casa decente para morar!
       Mais uma vez, lá foi o bom velho:
       - Peixe, peixinho, vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para o mar!
       O peixe nadou até a margem e assim fez, a cauda na água e a cabeça ao céu a falar:
       "Que desejas agora?"
       - A minha mulher deve estar maluca: não me deixa em paz!... Diz que já não quer ser camponesa, prefere ser mulher de governador.
       "Não te aflijas, que tudo estará resolvido."
       Ao voltar, não mais encontrou a velha cabana, nem outra mais nova sequer... Erguia-se, no mesmo terreno, uma mansão de três andares, construída sobre largas bases de pedra. Sim, o peixe de ouro havia atendido com prontidão a mais esse pedido. O pescador foi-se chegando e os criados vieram recebê-lo ao pátio. Perguntou pela sua mulher e... não tardou a encontrá-la refastelada numa poltrona, toda vestida num verdadeiro luxo.
       - Como estás, minha mulher? Contente?
       - Tens o atrevimento de me chamar tua mulher, a mim, mulher do governador?
       E assim dizendo, deu ordens aos criados para o despejarem na rua.
Lá fora, o pescador levou boa surra com paus e cordas. Apanhou de tal modo que, só com muito custo, conseguiu ficar de pé outra vez... e, além de tudo, foi nomeado varredor da casa, obrigado ao ofício da vassoura e a deixar o pátio sempre limpo... se encontrassem uma só folhinha no chão, desciam-lhe o pau nas costas!
       Foi vivendo assim humilhado até ao dia em que a mulher do governador quis vê-lo pessoalmente. Já estava cansada daquela vida.
       - Vai, agora mesmo, velho tonto, falar com o teu peixe. Desejo ser czarina para toda gente me obedecer e respeitar! Devo morar num palacete e todos deverão inclinar-se quando me virem passar! Anda! Sem demora!
       E foi ao mar o pescador e veio à praia o peixe de ouro.
       Tudo se fez como contam as palavras... e, naquele mesmo lugar, onde muito tempo atrás existia uma cabana, estava agora um palácio coberto com telhas de ouro. Sentinelas tomavam conta à porta. E ele entrou por um rico jardim, viu muito mais criados correndo de um lado para o outro. Na cozinha, exalava um bom cheiro pelo ar – preparava-se um banquete.
Cada vez mais infeliz, o pescador procurou a mulher.
       Ela estava lá, no alto de uma esplanada, entre nobres e generais, passando revista às tropas. Tambores e trompetes faziam soar o hino dos Czares...
       O pescador desistiu de falar-lhe, procurou a vassoura e ficou bem quieto no seu posto.
       Mas não demorou muito até que a velha mulher se entediasse com toda aquela vida de riqueza e honrarias; então, ordenou que trouxessem o pescador à sua presença.
Nobres, generais, soldados e criados colocaram-se em polvorosa pois ninguém jamais havia ouvido falar de tal pessoa entre os afectos da czarina... Foi com muita dificuldade que conseguiram encontrar o bom velho, levado imediatamente para o salão do trono.
       - Tens sorte de ainda viver para me ver deusa dos mares. Este é meu desejo, comandar toda a gente que vive sob as águas. Sem demora, retorna ao peixe e ordena-lhe!
       Com o coração muito apertado, o pescador obedeceu.
       - Peixe, peixinho, vem cá! Vira a cabeça para mim e o rabo para o mar!
       Mas o peixe de ouro não apareceu na primeira chamada, nem na segunda, nem na terceira...
       Foi então que o mar se ergueu em ondas revoltas, ficando de azul-chumbo, muito escuro. As águas ficaram irreconhecíveis e, nesse momento, o peixe de ouro chegou à orla da praia:
       "Que mais queres, bom velho?"
       E ele foi contando tudo como havia acontecido, mas o peixe, sem dizer mais nada, deu de cauda e... desapareceu nas profundezas do mar!
       O pobre pescador foi-se também embora, pensando na guilhotina à espera do seu pescoço.
Mas, ao chegar, que surpresa!... Encontrou, no lugar do palácio, a velha cabana, pequena e mal-acabada, a sua mulher sentada num toco de árvore remendando uma roupa por costurar. Tudo de volta ao mesmo lugar e toda a vida como era antes.
 
            Pescando dia após dia, 
            o velho, a rede e o mar, 
            nunca mais teve a mesma sorte 
            de seu amigo de ouro encontrar. 
 
 
Conto Russo traduzido do original por Peter O'Sagae.

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